Entrevista a Bruno José - Diretor Geral de Produção SP Televisão
O Bruno iniciou a sua carreira na área da ficção há mais de 20 anos. Como entrou neste mundo da ficção e, mais concretamente, no sector de produção?
Comecei a minha carreira na área da ficção, em 1999, com a série Capitão Roby, para a SIC. Tinha feito as Festas de Lisboa, nesse ano, e a Expo’98 no ano anterior, ambas na unidade de espetáculos. Obviamente que nessa altura a ficção era todo um mundo novo para mim, mas tinha de estar muito disponível para absorver toda a informação que me era dada.
Quais são, para si, os princípios base de quem trabalha em produção?
Para mim, é essencial termos sempre paixão por aquilo que fazemos. O querer saber mais sobre a matéria de produção e os projetos em si, o ser resiliente, assim como o brio profissional e a organização são também muito importantes. Estamos a falar de algo que envolve muita gente e muito dinheiro, o que nos obriga a sermos mesmo bons a fazer isto. No meu caso, comecei primeiro como produtor de elenco, que é quem faz o casting do elenco secundário e da figuração, depois fiz produção de locais, de exteriores, fui chefe de produção, planificação… acho que quase passei pelas áreas todas da produção. Sempre trabalhei de uma forma muito próxima de todos os colegas e, para mim, trabalhar em produção só pode ser desta forma, em união.
Como foi esta evolução até chegar ao cargo de Diretor Geral de Produção da SP Televisão e quais são os elementos-chave para alcançar o sucesso?
Acho que esta evolução se prende com o facto de eu ter passado por quase todas as funções dentro da produção e, consequentemente, ter um grande conhecimento desta área, o que considero ser importante. Mas aquilo que acho mesmo mais importante é ter brio profissional, sermos responsáveis por aquilo que fazemos e fazê-lo bem feito. Depois vem a organização, responsabilidade, disciplina, rigor e curiosidade.
E o maior desafio, qual é?
Todos os projetos têm sempre imensos desafios e quando nos deparamos com um novo pela frente, isso é muito aliciante porque podem ser vistos como uma provocação para quem trabalha nesta área. Na altura em que comecei, os desafios eram uns e, atualmente, são outros, mas estamos sempre à espera de que venham novos para nos sentirmos desafiados.
Qual o projeto mais desafiante até agora?
Eu adorei fazer a telenovela Perfeito Coração, tínhamos um ambiente de trabalho incrível. Também gostei muito de Laços de Sangue porque tivemos o desafio de estar a colaborar com a Globo. Este foi um projeto muito interessante e, ao mesmo tempo, desafiante porque nos permitiu um intercâmbio de conhecimento entre ambas as produtoras. A série Cidade Despida também foi um grande desafio, mas, no fundo, todos os projetos têm o seu desafio.
Enquanto Diretor Geral de Produção, tem trabalhado com várias equipas ao longo destes anos. Tem, certamente, assistido à evolução de vários profissionais também. Desta experiência, que conselhos deixa a quem quer seguir este caminho?
É fundamental que, no grupo de trabalho, todos estejam atentos ao que os outros fazem, ou estão a fazer, no sentido em que se alguém se ausenta a informação pode quebrar-se e cria-se logo ali um problema que pode fazer com que, por exemplo, as gravações se atrasem. Se todo o grupo de trabalho estiver em sintonia, garantidamente as coisas vão correr bem, não tenho dúvidas. Por isso, para mim, a comunicação é das coisas mais importantes em produção e, se não for bem feita, pode mesmo ser fatal.
Em 2022, a SP Televisão comemora 15 anos de atividade. Como acha que evoluiu a produção da ficção nacional ao longo destes 15 anos?
Acredito que estamos a fazer cada vez melhor os nossos conteúdos, porque se tornaram mais arrojados e apelativos. Ao nível da pós-produção, por exemplo, acho que avançámos imenso, nomeadamente através dos efeitos visuais, o que é algo extraordinário porque nos permite fazer coisas que até não há muito tempo eram impensáveis. Portanto, a evolução é algo de muito positivo porque torna os nossos projetos muito mais aliciantes.
Os projetos da SP Televisão já conquistaram mais de 137 prémios e nomeações, a nível nacional e internacional, e já contam com vendas (formato ou em lata) no estrangeiro para mais de 126 países. Isto é a prova viva de que a qualidade da ficção nacional está, cada vez mais, próxima à da internacional?
Completamente, por isso é que a SP Televisão tem uma grande quantidade de prémios internacionais que foram atribuídos aos nossos projetos. Nesta altura, dissociarmos o que é feito internacionalmente do que é feito em Portugal já não faz sentido nenhum, porque os prémios são a prova viva de que temos visibilidade e as críticas que nos são feitas são boas. Tenho perfeita consciência que em Portugal fazemos bem e temos recursos humanos incríveis, seja ao nível das equipas técnicas, produções, direções artísticas e de atores, realizadores, elenco, e por aí fora.
Na sua opinião, o que ainda está por produzir?
Acho que ainda nos falta produzir imensas coisas… haja desafios ao nível das novelas, séries, documentários para nós produzirmos e levar o nome da SP Televisão mais longe. Se nos quiserem desafiar a produzir coisas maiores, certamente vamos querer estar lá e mostrar que somos capazes de fazê-lo.